quinta-feira, 10 de julho de 2008

DESPEDIDA

Estagnada nesta bolha

Paralisada

Passo e repasso minhas memórias

Faço e desfaço minhas mentiras


Escuto

o

Silêncio

e

Penso


A bolha se esvai na paisagem

Por sobre a relva, o orvalho, o luar

A voar sem destino, sem opção

Com o vento vai velejando vagarosamente e vã


E eu, a venerar essa paisagem que passa

Tão alheia ao mundo que acontece sem razão

Repenso meus dilemas eternos, minhas qualificações

Minhas verdades já tão sem sentido


Desnorteada

Desorientada

Descentralizada

Despedida


Partida


Vou-me

Solta

Vôo-me


Pra onde...

Pra longe...

Pra lá...

Pra depois...


... mudanças para sempre

... mistérios ocultos

CERRADA

Tentava dormir naquele cômodo

Incomodada pelos tímidos raios do sol que insistiam em se mostrar lá fora

Radiantes, contentes, felizes com o amanhecer

Enquanto eu jazia em meu leito

Tentando ignorar o despertar do mundo

O cantar dos pássaros e o ninar das corujas, escondidas como eu


Tentava extrair de meu ser cansado ao menos uma gota de sono

Que me causasse qualquer mera sensação de sossego, descanso, despreocupação

Mas eu já estava seca de vida, de sono e de choro

Tudo o que já havia sido de bom se esgotara

O buraco produzido por tamanha falta já era profundo demais

Ninguém se arriscaria jamais a adentrá-lo


Estava fria, mas o dia era quente lá fora

Meu silêncio ensurdecia minha vontade de viver

Os raios que antes partiam tão naturalmente de meus olhos já não tinham força

Não cegavam mais ninguém, nem tampouco me aqueciam

Solitária permaneci em minha alcova

Cerrada pela trinca enferrujada da porta empenada

CORES FLORES

Colorindo o cinza do asfalto
Com as pétalas das flores novas
Recém chegadas nessa terra morta
Cemitério, coração de São Paulo

MÃO ÚNICA

Cansei dessa cidade grande

De mãos que não se encontram

E bolsões de exclusão