O gato comeu minha língua
Levou embora minhas palavras
Meu paladar, minhas gírias
Minha personalidade, minhas manias
Procurei por todo canto
O gato com cara de santo
Encontrei minhas gotas de sangue caídas
Ouvi trechos das minhas canções favoritas
Mas o gato mal, eu não achei por nada
Tão leve, não deixou nenhuma pegada
Nem sobre a areia fofa da praia
Nem sobre a poeira espessa da calha
Desde então, exponho-me em versos tristes
Neste diário que criei pra contar minhas crises
Pra ver se é possível transmitir assim
O que minha língua contava de mim