sábado, 30 de agosto de 2008

Chuva Ácida

Segurei algumas fortes convulsões lacrimais enquanto andava do escritório para a minha casa. Mais convulsões silenciadas e abafadas no elevador, que tanto custou a subir ao 13° andar.

Pé adentro: soltei o lacrimejante desespero que se apoderava de meu ser. Muito chorei. O céu trovejava lá fora, mas era de mim, de meu âmago, que transbordavam as gotas dessa chuva ácida, que corroia minha face lisa. Só o que me restou fazer foi chorar e mais chorar. De desespero, de angústia, de tristeza, de dor. Senti-me como o último dos seres, completamente sozinho e oco. Vazio. Sem sentido. Sem motivo pra viver, pra prosseguir.

Lágrimas, água e sal, partes do meu âmago que meus olhos expeliram tão rápida e vorazmente como se fosse veneno em meu sangue, como se fosse algo maligno e odioso. Sentia meus olhos cada vez mais quentes. A casa estava deixada à penumbra, à pouca ausência de luz permitida nessa cidade grande e luminosa. Remoia-me, rolando pelo sofá, enquanto perdia o fôlego a soluçar palavras de desespero e indignação. Não me conformando com a realidade tão cruel que se mostrara a mim, nua e crua.
Depois de pensar em muitas situações passadas e de relembrar os sonhos que me trouxeram até aqui, e depois de realmente afirmar minha posição medíocre e nula perante o mundo, pude suspender o choro.

Suspiro.

Era como se todo aquele veneno repugnante tivesse sido completamente retirado de meu ser. Agora estava calma, exausta após tanto remoer-me. Estava leve feito uma pluma, aliviada de todo o mal. E então me pus de pé e me deixei levar, vagarosamente, lentamente como jamais antes, até o banheiro. Lavei-me do resto de mal que me grudava à pele. Olhei o estrago em meu rosto, desfigurado pela vermelhidão e tristeza, pelo inchaço e desânimo. Mais uma vez pude reconhecer minha total idiotice e estupidez, minha completa falta de perspectivas.
E o pensamento que não me deixa, nunca: “a vida não devia ser bem mais que isso?”.

Um pouco de fome me fez chegar à cozinha e esquentar metade do que sobrara da sopa de legumes que eu mesma preparara uns dois dias antes. É triste abrir uma tapuer de plástico e observar a comida gelada ali dentro, tão sem gosto, tão sem cor, tão sonsa. Esquentei no microondas cancerígeno e me pus no sofá da ante-sala. Mas hoje não liguei a televisão, nem o rádio.

“As coisas vão mudar bastante daqui pra frente...”.

Um comentário:

Agnolias disse...

" a vida não deveria ser bem mais que isso...?"

acho q sim...mas na maior parte das vezes tb me desespero...e esse desespero me diz que não...

mas todas as horas passam....